Pessoas criativas precisam de tempo para não fazer nada.
Num mundo cada vez mais conectado, nós fomos aprendendo a acreditar que devíamos fugir do tédio a todo custo. "Como assim alguém cogita não fazer nada em meio a tantas opções estimulantes, diferenciadas e inéditas?"
De fato, o sentimento de FOMO (do inglês 'fear of missing out', e que pode ser traduzido como 'medo de ficar de fora') tem uma participação grande nessa onda de precisar estar sempre fazendo algo que pareça produtivo. Mas, de acordo com estudos científicos, fugir do tédio faz o oposto disso. Ao buscar distrações constantes, ou tentar executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo, você joga fora o potencial que o seu cérebro tem de te levar a pensar suas melhores ideias.
No projeto que deu origem ao livro 'Bored and Brilliant', a jornalista Manoush Zomorodi conversou com profissionais da área de neurociência e comportamento para entender a relação entre os hiperestímulos e a criatividade.
A explicação por trás disso é simples: a cada vez que mudamos o foco de uma atividade para outra, mandamos uma mensagem para o nosso cérebro de que essa mudança precisa ser feita e, para isso, usamos nutrientes que realizam a ação de "iniciar o momento de foco em algo novo". Acontece que, ao não permanecermos concentrados em desenvolver uma coisa de cada vez, ou melhor, ao nos obrigarmos a agir no modo multitarefas, nossos neurônios mantêm o ritmo de repetir a liberação de recursos limitados sem aproveitá-los de fato. No fim das contas, é como se você jogasse fora boa parte do potencial do seu cérebro para solucionar problemas e executar suas tarefas usando sua criatividade.
Outro dado super interessante da pesquisa conduzida por Manoush mostra o seguinte: dez anos atrás, a média de mudança de foco no trabalho era de 3 minutos. Ou seja, a tendência era de que a cada 3 minutos você desfocasse a sua atenção de uma coisa para focar em outra. Já em 2017, essa média era de apenas 45 segundos. O que nos leva a crer que, em 2023 (pós pandemia e o bum do Tiktok), esse número seja ainda menor.
As pessoas têm a sensação de que precisam ocupar a mente enquanto fazem atividades cotidianas, mas é justamente esse "modo automático" que faz com que o seu cérebro comece a trabalhar ainda mais - e melhor. Conseguir diminuir o tempo de exposição em telas e a necessidade de se distrair a todo custo é um desafio válido, e que pode trazer benefícios para a sua saúde em um curto prazo.
Contemplação ≠ Evitação
Pode ser que não fique tão claro para algumas pessoas, mas existe diferença entre deixar a mente livre e evitar lidar com certos pensamentos e preocupações. Quando não queremos encarar certos desafios, pensamos que a distração nos ajuda no processo de desviar da ansiedade e angústia, mas não estamos de fato descansando a mente e estimulando o cérebro, pelo contrário. A evitação leva apenas à procrastinação - e é disso que uma cabeça ansiosa se alimenta.
O estresse não é combustível para nada além do burnoutinho, como já falamos em outro conteúdo por aqui.
Assista ao vídeo completo abaixo:
Se o sentimento de tédio era temido por aí, agora você sabe que não existe motivo para isso. Na verdade, permitir que sua mente fique entendiada pode ser a solução para um tanto de coisa que você nem imagina.
É claro que viver entediado 100% do tempo não garante que você vá ser a pessoa mais criativa do mundo, afinal de contas, é tudo sobre equilíbrio! Nós precisamos de estímulos, referências e inspirações. Mas precisamos de tempo de descanso para processar e absorver todas as informações que chegam ao longo do dia. Paralelo a isso, existe o cuidado em manter uma boa alimentação e rotina de sono.
Não sabe o que fazer? Não faça nada.
De repente sua próxima grande ideia está apenas a "um tédio de distância" :)